quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Domenico Sacco, anarquista e herói de guerra






Jornal "A LANTERNA"
Em Pelotas
"Contra o domínio do Clero"
Protesto

Usando de um direito constitucional, a população livre desta terra, diante da proteção dispensada abertamente ao clero, elemento pernicioso de todos os tempos, protesta veementemente contra esse estado lamentável de coisas que ameaça perturbar a moralidade do nosso povo pela aceitação submissa de bolorentos princípios errôneos da ignorância que o clero espalha em profusão no intuito criminoso de se apoderar das consciências e convertê-las, passivas e timoratas, às suas ideias, subjugando-as ao seu poderio negregado. Esta parte da população de Pelotas, acompanhando o progresso do século livre de preconceitos retrógrados, cumpre seu dever e pratica um bem salvaguardando a honra de seus lares, cultuando a verdade contra as investidas do elemento clerical que todos os países procuram eliminar em enérgicas medidas de moralização de costumes.

Meu comentário:

Os imigrantes italianos vieram para o Brasil trazendo consigo muito mais do que sementes, mudas de plantas, conhecimentos de como cultivar a terra, saberes, ofícios diversos e o desejo de estabelecer uma nova vida no novo mundo. Em suas mentes veio a vontade de construir uma nova sociedade a partir de ideais libertários. O caso de Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti nos Estados Unidos da América (retratado em livros e filme) não é um fato isolado. Estes imigrantes italianos foram mortos covarde e injustamente na cadeira elétrica depois de um processo criminal injusto, onde provas foram forjadas para punir aqueles que criticavam a exploração da classe trabalhadora naquele país. 


Pois é, o que eu soube agora é que Domenico Sacco, irmão mais novo de nosso bisavô Vincenzo Sacco, fazia parte desse movimento universal. Na nota acima, publicada no aludido jornal, consta o seu nome, dentre outras pessoas de Pelotas, que protestavam contra o poder da Igreja Católica. “A Lanterna”, segundo informa o grande historiador brasileiro Bóris Fausto, foi um dos jornais anarquistas de duração mais longa publicados em São Paulo.

Domenico Sacco, como já informei em postagens anteriores, voltou para a Itália e se alistou como soldado no exército italiano. Seu nome consta numa relação de 392 soldados ítalo-gaúchos que partiram para o front no período compreendido entre junho e setembro de 1915. Sua morte teria ocorrido, provavelmente, na chamada “disfatta di Caporetto”, uma derrota sangrenta da Itália que ficou registrada na memória desse país até os dias atuais. Esse fato também foi informado em postagem anterior.

O nome de Domenico Sacco consta no livro de heróis caídos pela Itália. Ele tinha então 35 anos de idade. Não por obra do acaso, nosso tio Domingos, pai da Gínia, Sandra e Fábio Sacco, tem esse nome em homenagem a Domenico Sacco. Ou seja, sabemos algo mais desse personagem da Sacco Family, que além de herói de guerra, tinha fortes vínculos com o anarquismo, uma corrente de pensamento político extremamente avançada, inclusive para os dias atuais.

Para os que não sabem, o anarquismo prega sistemas de autogestão ou autogoverno, que dispensam inclusive a existência do Estado. Quando vemos hoje que nossos impostos servem apenas para alimentar a corrupção em troca de serviços de péssima qualidade, entendemos como esse debate é atual. A crise da democracia representativa e a corrupção que grassa em todos os países do mundo nos faz pensar na necessidade de imaginar uma nova sociedade onde reine e paz, a tolerância, a liberdade, o respeito à diversidade, sem esquecer a proteção de nosso ambiente para aqueles que ainda não nasceram. Convido-os a ler o pequeno trecho que copiei na busca que fiz no Acervo de Jornais de São Paulo. Agradeço a atenção do colega Antonio de Ruggiero, Professor da PUC – RS pela orientação e ajuda na obtenção dessas informações.



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